Doença do refluxo gastroesofágico: podemos falar em cura?

Refluxo ou doença por refluxo?

Refluxo gastroesofágico é a situação em que o conteúdo estomacal volta para o esôfago. Já a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é definida pela presença do refluxo associada a sintomas e/ou complicações.

As queixas do paciente portador de doença do refluxo gastroesofágico incluem os sintomas típicos (queimação no peito e regurgitação) e sintomas atípicos (tosse crônica, dor no peito, rouquidão, pigarro e erosão dentária).

A endoscopia pode ajudar muito

Diante da suspeita de doença do refluxo gastroesofágico, a endoscopia digestiva alta é muito importante para pesquisar alterações relacionadas ao refluxo, como hérnia de hiato, esofagites, esôfago de Barret, entre outras.

Porém, ela não é obrigatória em todos pacientes com doença do refluxo gastroesofágico. Em pessoa mais jovens, com sintomas sugestivos de refluxo e na ausência de sinais de alarme, pode-se optar por realizar tratamento com medicamentos e dieta, por até 8 semanas e observar os sintomas. Deixa-se então para realizar o exame caso a melhora sustentada não seja alcançada.

Mudança de estilo de vida é fundamental

O pilar principal do tratamento são ajustes na dieta e medidas comportamentais. Recomenda-se uma alimentação equilibrada e saudável, procurando evitar alimentos e bebidas que podem ser “gatilhos” para os sintomas de refluxo, como bebidas alcoólicas e gaseificadas, alimentos cítricos condimentados e picantes, cafeína, chocolate, alimentos gordurosos, menta e hortelã.

Além disso, deve-se evitar refeições copiosas, preferindo refeições menores e mais frequentes (5 a 6 refeições ao dia), parar de fumar, não usar roupas apertadas e não exercitar-se logo após a refeição.

Para evitar os sintomas noturnos, evitar deitar-se por três horas após a refeição, elevar a cabeceira da cama em 15 cm e preferir deitar-se sobre o lado esquerdo do corpo. Essas medidas dificultam o retorno do material estomacal para o esôfago e permitindo um sono mais tranquilo e de qualidade.

Possibilidade de cura

Quando estas medidas são insuficientes para controlar a doença, considera-se o uso de tratamento medicamentoso e, por vezes, até mesmo o cirúrgico.

Deve-se salientar que a DRGE é uma enfermidade crônica, de forma que para a maioria dos casos o objetivo do tratamento é o controle dos sintomas, a cicatrização das lesões esofágicas (esofagite) e a prevenção de complicações como úlceras, estenoses (estreitamentos) do esôfago e até mesmo o câncer. Não necessariamente a cura da doença.

Porém, quando há fatores causais para a doença do refluxo gastroesofágico e estes são resolvidos, pode-se “curar” a doença. Isso ocorre na obesidade (quando a perda de peso pode resolver o problema) e também na gestação (ao término desta, os sintomas podem se resolver).

Caso esteja associado a medicamentos como betabloqueadores, broncodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio, sedativos e alguns antidepressivos, o plano terapêutico deve ser revisto e considerar, se possível, trocar a medicação envolvida nos sintomas.

Doença latente

Diante de tudo isso, buscando adotar essas medidas de comportamento e de dieta, é possível em alguns casos manter a doença do refluxo gastroesofágico em remissão sem necessariamente uso de medicamentos. Porém, é importante ter em mente que, nesses casos, ocorre mais uma “latência” da doença do que propriamente a cura. Podendo haver recidiva dos sintomas e das lesões casos essas medidas sejam abandonadas.